A felicidade não existe - pelo menos, não como imaginamos
um exercício de niilismo positivo com palavras simples e histórias reais
Sempre achei que eu conhecia as coisas que me fariam feliz na vida, e estou falando das grandes conquistas, não apenas do chocolatinho para salvar um dia difícil ou celebrar um dia legal. Todo dia é um bom dia para um chocolatinho, mas vou me ater ao tema desse artigo.
Eu sou autora de fantasia e romance, e comecei no cenário independente assim como boa parte dos artistas. Por alguns anos, idas ao correio com as sacolas lotadas, divulgando meus livros e tudo mais, eu estava certa de que a felicidade viria ao ser notada por uma grande editora.
Continuei colocando todo meu coração no meu trabalho, todos os dias no ano, e eventualmente – EU FUI NOTADA POR UMA EDITORA.
E aí que a historia começa (ou a parte que a maioria vê e deduz que o resto foi fácil)
A felicidade veio, claro, mas junto dela, estava a ansiedade de mãozinhas dadas, igual no filme Divertidamente 2. Faltava esperar a aprovação interna, fechar contrato, alinhar datas de lançamento e tudo mais, procedimento normal quando entramos em um novo projeto.
O que aconteceu, é que a felicidade brilhou nos brindes com minha família, nos parabéns que recebi dos amigos, no jantar de comemoração, mas todo o resto do tempo, eu sentia uma responsabilidade gigantesca. Medo de falhar, medo de desperdiçar uma chance de ouro, ansiedade para saber como a história seria recebida e tudo mais.
Eventualmente, com terapia e tudo mais, eu passei a lidar com meus sentimentos de forma mais leve e saudável, me permitindo sentir mais felicidade do que ansiedade.
Eu havia realizado um sonho gigante, enorme, escalado o Everest das minhas expectativas, mas é incrível a capacidade humana de mudar a régua das nossas conquistas e de sempre querer mais.
Não me entenda mal, visão de futuro e uma pitada de ambição move um profissional em direção a uma carreira próspera, é uma característica positiva (especialmente com autônomos que não tem nem um chefe nem a própria mãe para dizer o que se deve fazer em seguida – por mais que minha mãe ainda fique no meu pé para comer frutas).
Como sempre fui frequentadora da Bienal, desde a primeira excursão aos 12 anos, meu sonho era também fazer parte da maior festa literária do país. Não só estando presente, não só com meu livro publicado, não só com sessão de autógrafos, mas no palco. Em alguma curva de crescimento eu saí da menina tímida que não sabia dar bom dia para a garota que não larga o microfone (desculpa quem me chama para Karaokê), e em 2024 tive meu primeiro convite para estar na Arena Cultural da Bienal SP, em uma mesa da programação oficial.
É claro que eu estava feliz! Quando recebi a notícia, tudo que senti foi felicidade, fui para a academia saltitando, contei para as pessoas mais próximas e vi que era possível sonhar ainda mais alto.
Mas quer fazer deus rir? Conte a ele seus planos.
Na semana da Bienal, o Brasil foi acometido por incêndios florestais de proporções continentais, tornando o ar de São Paulo (que já não é lá essas coisas), marrom. MARROM. O nascer do sol era marrom. Não me conformo até agora.
Encurtando um pouco: perdi a voz tão forte quanto a Ariel quando fez o pacto com a Ursula. Não saia um “a”. Nem com microfone, nem com nada.
A felicidade, virou pânico. Passar mal fora de casa é uma droga, mas me cuidei com 100% de tudo que me recomendaram (inclusive o chá de gengibre que minha mãe ensinou a fazer por FaceTime).


Eu tinha planejado que esse momento seria totalmente diferente, e toda a antecedência dele foi 600 vezes pior do que imaginei. Por um milagre e 5 dias de tratamento com todos os xaropes possíveis, eu tinha alguma voz ao subir no palco da Bienal. Fraca, escassa, mas o suficiente para acrescentar algumas frases e tirar algumas risadas do público.
E sim, lá no palco eu estava inteira, completa e assustadoramente feliz. Eu tinha conseguido, cacete! Não teve incêndio, Bruxa do Mar, ansiedade ou insegurança grande o bastante para se colocar entre eu e meu sonho.
No final, se eu passei por todos os desafios, ninguém se importa. Claro que despertou empatia e preocupação em entes e leitores muito queridos que desejam melhoras e torceram comigo, mas a única pessoa capaz de viver suas provações, é você mesmo.
A felicidade, no fim das contas, não veio na hora que descobri que iria publicar um livro, ou quando recebi o convite para a Bienal. O que me acometeu nesse momento foi outro sentimento:
Euforia. Alegria. Empolgação. Sentimentos físicos, exigindo dos meus pulinhos, dos gritos animados e de um jantar com a melhor sobremesa do cardápio.
A felicidade é macia, suave, perene. Não faz esse estardalhaço (com todo o devido respeito ao estardalhaço). A felicidade veio depois.
Quando vejo as fotos e gravações daquele dia. Quando encontro meu livro em uma livraria. Quando vejo a mensagem de que alguém leu e se tocou pela minha história.
E isso não só vale em situações de carreira, mas a primeira vez que fui para a Disney (que era meu maior sonho na infância), chorei em pânico pois não teria tempo de fazer tudo que eu queria no parque e estava arruinando as memórias que eu inventei por 19 longos anos. Culpo um pouco o Renato Russo e a música que dizia “Não temos tempo a perder”. Temos, sim, pelo menos um pouquinho.



Temos tempo para entender que podemos respirar, deixar o pânico passar, dobrar as adversidades e se entregar ao momento como ele é, e não como projetamos que deveria ser. É mais feliz a vida daquele que deixa a vida o surpreender.
Entendi que tá tudo bem sentir mais ansiedade do que felicidade quando uma conquista muito grande se agiganta no horizonte. é só o sol nascendo mostrando a aurora de um novo dia.
A felicidade é ver as estrelas surgindo no céu e se sentir em paz pois deu o seu melhor, e amanhã estará mais corajoso para sonhar ainda mais alto.
Obrigada por chegar até aqui, e você pode conhecer meus livros no meu site oficial (ai, que chic ela!) e me acompanhar de pertinho como Fada de Saturno nas redes sociais.
Achei chique tu ter um site! Haha
Felicidade é como se fosse uma calmaria, né? A euforia vem e vai como uma onda gigantesca e depois fica lá a felicidade batendo nos teus pés tipo marolinha avisando que tu tá viva e que a vida presta, né?
Nossa, me identifiquei em vários aspectos do seu texto... Sempre que estou prestes a realizar um grande sonho, eu fico em pânico, ansiosa e, por vezes, quero desistir. Foi assim com meu intercâmbio, casamento (agravado pela pandemia) e todas as minhas viagens a trabalho - a mais recente, inclusive, foi a treva para mim de ansiedade! É muita empolgação, muita expectativa e muito medo de tudo dar errado... E isso me trava muito na hora de correr atrás do meu outro sonho, de lançar o meu livro. Mas é saber viver e lidar com essas emoções. Porque tanto a calmaria quanto os pulinhos indo para a academia fazem parte do processo <3 Ameeei o texto e a reflexão!!!