Terminei de escrever um livro, e agora?
A ânsia de ter e o tédio de possuir aplicado a produtividade artística e a sabedoria de um bebê de 2 anos
Escrever é solitário. Você coloca o ponto final na história que passou meses – talvez anos – na sua cabeça e não aparecem fogos de artifício no céu. Nenhuma música épica pois chegamos na parte do filme em que o herói supera seu maior obstáculo. Não sobem os créditos com uma fonte maneira dizendo “Dirigido por Greta Gerwig”.
Para quem não me conhece, eu sou a Naty, e trabalho como autora de fantasia há uns 5 anos, e recentemente terminei de escrever meu… quinto romance? Sexto? Perdi as contas, e esse é o ponto desse post: minha cabeça sempre está no próximo.
Vivo pensando no livro que vou publicar, nas ideias que preciso lapidar, nos projetos engavetados esperando pacientemente sua vez, e nas anotações que provavelmente vão se perder no tempo.
Ano passado publiquei “Sonata de Lua e Fogo” e nas próximas semanas vou lançar um romance sáfico entre uma pirata e uma estrela cadente por um dos maiores grupos editoriais do Brasil, a Planeta (mesma de Quarta Asa, só um cadim intimidador).
E veja bem, ser autora de fantasia no Brasil é um desafio singular. Com muito amor, carinho e horas sem fim criando conteúdo, consigo alcançar uma plataforma de leitores maravilhosos.
Ou seja, além do meu trabalho como autora que por si só toma uma boa parte da minha existência e capacidade de planejamento, ser criadora de conteúdo também exige dos meus pobres e ansiosos neurônios.
Ambos os projetos são ambiciosos, minha veia criativa sempre vai além da curva (para o pavor dos meus editores que recebem vários e-mails com ideias mirabolantes).
“Sonata” é uma edição de luxo repleta de enobrecimentos publicada pela Izyncor, e ACDE (o da pirata com a estrela), virá com surpresas especiais na edição além de um EP exclusivo.
Pois é, eu compus músicas para o universo da minha história. Não consigo pensar em história de pirata sem pensar em tabernas e sereias cantando. Com o talento do Gimmy Fire e da Giulia OnFire, as músicas se tornaram realidade, e agora tenho um livro e um disco.
Poxa, que legal, agora é o suficiente!
Não. Nada é. Sinto constantemente que estou apostando corrida com a minha criatividade, e perdendo de lavada. O ritmo que sou capaz de sonhar é inversamente proporcional a minha capacidade de produzir. Ou algo assim, matemática não é meu forte.
Tenho consciência que o nome do que me aflige é capitalismo, que nos coloca nesse sistema desenfreado de produção e novidades.
Estou cursando pós graduação em Literatura, e um dos consensos dos professores é que buscamos nas histórias uma forma de imortalidade, tanto dos personagens quanto do autor e legado.
Pensa comigo: Você lembra o que viu nas redes sociais três dias atrás? Pois é, eu também não.
Agora você lembra de um livro que leu e amou há três anos? Se não dos detalhes, de como ele fez você se sentir. Aposto que ainda o recomenda, acertei?
Isso acontece porque o que fixa no nosso coração, é aquilo que a gente investe nosso pensamento, nossa atenção e aquilo que temos de mais precioso: tempo.
E voltando a lógica de criar VS finalizar, acho que tenho que fazer as pazes com a ideia de que vou partir da Terra com ideias inacabadas. Imagino que se não tivesse algo me chamando, seria o mesmo que não estar viva.
Você sente esse chamado? Sente essa angústia de não poder escrever todos os livros, cantar todas as músicas, devorar todas as histórias, misturar todas as cores até criar um quadro só seu?
É bom saber que não estou só, e que esse bonde de malucos tem gente legal como você.
Outro dia estava brincando com meu sobrinho, Joel de 2 anos e meio, de “pula pirata”, aquele jogo em que o pobre do pirata está preso em um barril e é espetado por espadas até ser arremessado da sua prisão. Meio esquisito para um brinquedo, mas volto nisso em outro momento.
Eu, como adulta limitada que sou, estava focada em descobrir qual buraquinho eu deveria colocar a espada para o coitado do pirata pular, enquanto Jojo estava muito mais preocupado em tirar todas as espadas, enfiar o cabo, colocar na caixa, tirar da caixa, guardar tudo na gaveta, colocar a caixa na cabeça e finalmente chamar minha atenção quando me distraia no celular, falando “Tia Natalia, o pirata!”.
Não era sobre o pirata pular. Nunca foi. Era sobre o processo e as possibilidades, como esgotar cada uma delas com a participação da tia que estava focada demais no resultado.
Eu escrevo sobre piratas, mas Joel talvez saiba mais da vida do que eu, viu.
Voltei para minha casa, ainda com mil ideias na cabeça, no bloco de notas, no e-mail da minha editora e nas mensagens com minha agente.
Ainda me pergunto o que vou fazer depois de lançar esse livro, se vou lançar algum ano que vem, se tenho que manter a meta de publicar um livro por ano… talvez a graça esteja em não saber. Em descobrir no caminho.
É por esse motivo - e outros, também - que sua escrita ressoa tanto em mim, Naty. Não é só pelo nome (ahahahha), mas você colocou em palavras aquilo que eu sempre senti e, ultimamente, tenho sentido muito intensamente. Encruzilhadas são constantes nessa vida de quem não apenas escreve, mas também VIVE as suas histórias de um jeito que é mais do que só produzir em larga escala e ganhar likes. A sua determinação e alma sonhadora ajudam a manter vivo em mim o sonho de que posso ir além, e eu sou muito grata por isso. Você fez uma diferença aqui, na rotina de uma pessoinha, e eu queria muito que soubesse disso <3
Eu amei tanto esse texto, Naty!!!